A descoberta

Em maio de 2010, me pesei e estava com 71 kg. Me achei um pouco acima do peso para os meus 1,68m e decidi que ia fazer uma dieta, exercícios, essas coisas que toda a mulher sempre decide fazer depois que sobe em uma balança.

Eu, minha mãe Márcia, meu cunhado Luiz e minha irmã Natália
Sempre ia adiando. Primeiro, porque estava trabalhando muito em um projeto novo da empresa. Depois, porque sempre temos preguiça de começar qualquer coisa.

Um mês qualquer depois, acho que julho, me pesei e estava com 69 kg. Fiquei feliz, afinal milagrosamente tinha perdido 2 kg. O sonho de qualquer mulher é perder peso sem precisar se esforçar para isso.

No mês seguinte, menos 2 kg. Passou agosto... menos 1 kg. Começou setembro e com ele as cãimbras nas pernas. Nas duas, todos os dias. Achava horrível, mas não desconfiava que pudesse ser algo.

Eu e meu namorado Luiz Paulo
Na sequência, a sede e o xixi. Em excesso! Era um ciclo: eu ficava morrendo de sede, tomava uma garrafa de 500 ml inteira, terminava a água, eu fazia os 500 ml em xixi e saia do banheiro morrendo de sede. A situação ficou inviável. Eu tinha vontade de fazer xixi nos momentos mais inoportunos, ou seja, todos os momentos. Passei a acordar até cinco vezes durante à noite.

Outubro, férias. Estava super contente porque poderia descansar, mesmo intrigada com a situação xixi, água e cãimbras. Fui primeiro passar um feriado no Mato Grosso. Lá desencanei total. Passei todos os dias tomando muita cerveja e aí o xixi exagerado se misturou com o álcool. A coisa toda ficou esquecida.

Quando voltei para São Paulo foi só a correria de arrumar as malas e parti em um mochilão para o Uruguai e a Argentina. Seriam 17 dias de viagem por dois países desconhecidos sozinha. Já fui suspeitando da diabetes, porque uma amiga falou que poderia ser pelos sintomas. Mas com passagem comprada, albergues reservados e tudo o mais decidi ir primeiro e pensar nisso depois. (Uma irresponsabilidade eu sei, mas eu sequer sabia o que era diabetes nem sabia as consequências que poderiam haver...)

Na viagem, graças a Deus deu tudo certo. Mas quando cheguei no aeroporto minha mãe arregalou os olhos e foi logo dizendo: "meu Deus, você está muito magra". Quando tive a oportunidade de pesar verifiquei que eu estava com 58 kg. Eu tinha perdido desde junho 13 kg.


Na Argentina
Ai fiquei mesmo muito preocupada. Pesquisei na internet o que era a diabetes e seus sintomas. Me assustava cada vez mais a cada nova página que abria. Só lia trechos: urina em excesso... sede excessiva... perda de peso... doença crônica... Li sobre o grupo de risco e eu não fazia parte dele: tinha uma boa alimentação, não era obesa, só um pouco sedentária.

Vi que o exame para o diagnóstico era o Glicemia Jejum, um dos que minha ginecologista tinha pedido há pouco tempo atrás. Eu tinha falado para ela da perda de peso e ela tinha comentado que poderia ser diabetes ou tireóide, mas não sei porque negligenciei o comentário.

Fiz o exame, em dois dias saiu o resultado: 293 mg/dl. A referência estava ao lado: entre 75 e 99 mg/dl. Foi nesse momento que percebi que eu tinha um problema.

Na mesma hora marquei uma endocrinologista, para dali 10 dias. Nesse meio tempo minha mãe conversou com o médico do trabalho dela e ele foi categórico: "é diabetes". Quando ela me contou foi como se eu já soubesse, afinal eu já tinha lido tudo sobre o assunto que estava na internet.

Mas foi no final de semana seguinte que eu entendi de verdade. Tínhamos combinado um churrasco com uns amigos. E na festinha fiquei com medo de tudo. De beber, por causa do antiabético que já estava tomando. De comer pão porque tinham me dito que não era bom. De tomar a caipirinha por causa do açucar. No meio disso tudo eu desabei. Corri para o quarto, me joguei na cama e chorei.

Meu namorado me achou, começou a perguntar o que era e eu só conseguia dizer: "não é justo, nunca comi besteira, nem gosto de doce". Chorei muito, chorei demais. Lágrimas de frustação, sentimento de injustiça. Principalmente a sensação de que eu não iria dar conta.

Meu namorado chorou comigo. Minha mãe chorou. E foi vendo isso que eu percebi que eu não poderia chorar. Ver as pessoas sofrendo por minha causa me assustou. Levantei, sequei as lágrimas e decidi que não choraria mais. Sempre fui forte, sempre batalhei, não seria agora que eu iria enfraquecer. Respirei fundo e me preparei para a tal consulta com a endocrinologista que seria no dia seguinte de manhã. Segunda-feira, 06/12/2010, o dia do diagnóstico oficial.

Luana Alves

Tenho mania de escrever e de ver sempre o lado bom das coisas. Com diabetes desde 2010, acredito que uma vida controlada e divertida é possível sim. Jornalista, creio que posso ajudar os outros a acreditar também. Que saber mais sobre mim? Clica aqui!

2 comentários:

  1. Sabe qual é o pior sintomas, quando eu achei que no mundo só existia eu com Diabetes.
    O ADJ me ajudou bastante depois que fui em um encontro de Jovens, todos fazendo teste Glicemia, foi um pouco estranho mais legal.
    Espero que eu supere isso...Afinal tenho que aceitar

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  2. O mais incrível disso tudo é essa força imensurável e visceral que a gente tira não sei de onde pra seguir em frente.

    Mas chorar é bom, lava a alma e deixa a gente leve. Permita-se!
    Beijos...

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